Em Envira, município distante 1.206 quilômetros de Manaus, o ar parece mais pesado nesta semana. A cidade, conhecida por sua tranquilidade e pelo calor humano de seus habitantes, vive um momento de tensão. O destino político do prefeito Ivon Rates, eleito pelo voto popular, está nas mãos da desembargadora Carla Reis, presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM). No próximo dia 17, ela decidirá se o mandato de Rates será cassado ou se ele seguirá à frente da administração municipal.
O impasse judicial começou com um recurso apresentado pela coligação “A História Continua”, liderada pelo ex-prefeito Ruan Matos. O grupo alega que Ivon Rates é inelegível devido a irregularidades em prestações de contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Além disso, questiona a documentação apresentada pelo prefeito durante o registro de sua candidatura. O caso chegou ao TRE-AM após o juiz eleitoral Fábio Lopes Alfaia rejeitar os pedidos de impugnação movidos pela coligação e pelo Ministério Público Eleitoral.
O julgamento no TRE-AM, no entanto, terminou em um empate: três votos a favor da cassação e três contra. Agora, a decisão final cabe à desembargadora Carla Reis. Enquanto isso, os envirenses aguardam, com um misto de ansiedade e desconfiança, o desfecho dessa batalha jurídica que parece ignorar, em parte, a vontade expressa nas urnas.
Afinal, Ivon Rates foi eleito pelo povo. E esse detalhe não é pequeno. Nas eleições passadas, a população de Envira optou por mudar a gestão, deixando claro que não queria a continuidade da administração anterior. A coligação de Ruan Matos, derrotada nas urnas, agora busca uma reviravolta nos tribunais. Para muitos envirenses, isso soa como uma tentativa de desrespeitar a decisão popular. “A gente votou, escolheu, e agora querem tirar o nosso direito?”, questiona Maria, dona de um pequeno empreendimento no centro da cidade.
Há também o temor de que, caso a cassação seja confirmada, novas eleições sejam convocadas. E aí, a pergunta que paira no ar é: será que o resultado seria diferente? A população já se manifestou uma vez, e a derrota da gestão anterior foi clara. Será que uma nova eleição traria um cenário distinto, ou apenas prolongaria a instabilidade política que já afeta o município?
Do outro lado, os defensores da cassação argumentam que a lei deve ser cumprida, independentemente da vontade popular. Para eles, as irregularidades apontadas pelo TCU e as supostas falhas na documentação de Rates são suficientes para justificar a perda do mandato. “Não se pode fechar os olhos para possíveis ilegalidades”, diz um apoiador da coligação, que prefere não se identificar.
Enquanto o dia 17 não chega, Envira vive um clima de expectativa. Nas ruas, nos bares, nas feiras, o assunto é um só. Uns torcem para que a justiça respeite o voto popular. Outros esperam que a lei prevaleça, mesmo que isso signifique um novo capítulo de incertezas.
No fim, o que fica claro é que, para além dos tribunais e das disputas políticas, há uma cidade que precisa seguir em frente. Envira, como tantos outros municípios do Brasil, clama por estabilidade e por gestões que priorizem o bem comum. Resta saber se a decisão da desembargadora Carla Reis trará alívio ou mais turbulência para os envirenses. Enquanto isso, a espera continua, e o relógio parece andar mais devagar.