Reportagem do Intercept Brasil escancara o machismo descarado, a misoginia e a discriminação a minorias do Movimento Brasil Livre (MBL)
Uma integrante anônima do Movimento Brasil Livre (MBL) procurou o Intercept para denunciar o que ela acredita ser um padrão de machismo dentro do movimento. A fonte alega ter testemunhado várias declarações misóginas em grupos privados, além de tentativas de silenciar e inibir a participação feminina.
A integrante foi inicialmente atraída pelo MBL devido à sua postura ponderada e centrada. Ela acreditava que o movimento apoiava um mercado mais livre e abraçava minorias, sem ser reacionário. Na época, o MBL não estava alinhado com o presidente Bolsonaro, o que também a atraiu para o movimento.
As principais lideranças do MBL hoje são Renan Santos, Arthur do Val, Kim Kataguiri e Ricardo Almeida. No entanto, a estratégia e a militância são traçadas e ordenadas por Renan e Ricardo. Segundo a integrante, Ricardo é mais discreto, enquanto Renan é mais exuberante e vocal.Quando surgiu a polêmica envolvendo Arthur do Val, a integrante e outras mulheres do movimento pediram sua expulsão e uma maior vigilância dos líderes em relação a pessoas que se declaravam abertamente misóginas e machistas no movimento. No entanto, ela alega que houve total conivência por parte dos líderes da Nacional, a autoridade máxima do MBL.
Existe um grupo dentro do movimento chamado MBL Mulher, com perfil no Instagram e grupo no WhatsApp. Quando a polêmica do Arthur na Ucrânia surgiu, as mulheres do MBL ficaram revoltadas e começaram a falar e a xingar. A moderadora do grupo disse que levaria as reivindicações para Renan.No entanto, a moderadora começou a chorar, alegando que estava sendo pressionada a fazer algo que não queria, que era emitir uma nota de repúdio às falas de Arthur. Ela alegou que, naquele momento, o que precisava haver era união e que as mulheres estavam sendo desleais ao grupo.
Todas as mulheres do MBL que são figuras públicas e se pronunciaram no caso do Arthur não ultrapassaram o limite de crítica permitida. Sempre há um briefing quando ocorre uma crise, e se estabelece o que pode ou não pode ser dito. Quem ousa erguer o tom um pouco acima do que é permitido é enxotado, é execrado, é ofendido e acaba virando “traidor do movimento”.
A integrante decidiu fazer essa denúncia porque as mulheres que não aceitaram coadunar com a mais remota possibilidade de isso estar sendo praticado com o dinheiro de suas doações foram assediadas e ofendidas.
Segundo a integrante, existe um grupinho seleto de WhatsApp no MBL em que são ditas as coisas mais bárbaras e horrendas possíveis. A misoginia come solta, o racismo é uma coisa de louco, a xenofobia etc. Tem de tudo.
Ricardo Almeida, uma das lideranças do movimento, foi citado em uma conversa dentro de um dos grupos de WhatsApp do MBL se referindo a uma mulher desconhecida como “vagabunda”. Além disso, a integrante alega que Ricardo tem gerado em torno de si uma coisa que chamam de “almeidismo”. Às vezes se referem a isso como um meme, às vezes o meme parece que passa um pouco da conta. Existem meninas muito leais a ele.
Tem muito mais homem do que mulher no MBL. O movimento é realmente um espaço muito mais masculino. E aquela base feminina está ali para seguir a cartilha que é orientada.
A integrante alega que a coisa não se resume ao mundo digital. Na festa do Congresso Nacional do MBL ela viu homem maior de idade pegando adolescente. É uma coisa inacreditável.
Renan Santos, um dos líderes do MBL, tem se posicionado como vítima, alegando que está sofrendo cancelamento. “Ai, porque o MBL está sendo perseguido. É uma grande perseguição da mídia, é uma grande perseguição do PT, do Bolsonaro”. Até da terceira via ele diz que está sofrendo perseguição.
O MBL LGBT desapareceu porque eles chegaram a uma conclusão muito progressista, muito linda, muito século 21, de que bicha faz muita fofoca e cria muito problema. Então, o melhor era acabar com o MBL LGBT de vez.
Recentemente, essa moça estava discutindo com um amigo que saiu do MBL. E ele levantou um questionamento interessante: por que qualquer projeto à direita, mesmo que mais liberalóide e nada verde-oliva, parece sempre estar fadado a ser uma caricatura no Brasil?
Respondi o que, para nós, que temos o mínimo de consciência social, parece óbvio, mas, para um playboy de São Paulo, de família endinheirada, que se julga um “desajustado” apenas por não ter conseguido terminar uma faculdade de Direito e quebrado uma empresa, parece tão inconcebível: o Brasil é a terra onde a esquerda floresceu e encontrou o apoio das massas porque soube fazer a pesquisa de campo da sociedade em que estava pisando; soube fazer a leitura correta do ambiente.