Médicos Sem Fronteiras pede cessar-fogo em Gaza e pressão do Mercosul sobre Israel


A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) lançou um apelo global por um cessar-fogo imediato e duradouro em Gaza. A mobilização tem como objetivo sensibilizar líderes políticos mundiais a pressionar o governo israelense a interromper permanentemente os ataques contra a população civil, instalações médicas e pessoal médico em Gaza.

A situação em Gaza é descrita como um desrespeito total ao princípio fundamental da humanidade. Hospitais estão sendo transformados em necrotérios e a população está sendo submetida a uma situação desumana, sem acesso a água, comida e medicamentos.

Israel tem demonstrado um desrespeito flagrante e total à proteção de instalações médicas em Gaza. Hospitais estão sendo transformados em necrotérios ou mesmo ruínas. Estruturas de saúde estão sendo atingidas por bombardeios, tanques e disparos de armas de fogo, sendo cercadas e invadidas, ao mesmo tempo que pacientes e equipe médica são mortos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) documentou 203 ataques a instalações de saúde, resultando em 22 mortes e 59 trabalhadores da saúde feridos em serviço. Quatro integrantes da equipe de MSF foram mortos e muitos outros perderam familiares. Um grande número de colegas foi ferido. Outras organizações humanitárias também registraram a morte de dezenas de integrantes de suas equipes.

Os profissionais de saúde, incluindo nossa própria equipe, estão totalmente exaustos e desesperados. Eles tiveram de amputar membros de crianças sem anestesia nem instrumentos cirúrgicos esterilizados. Ademais, devido a evacuações impostas por soldados israelenses alguns médicos tiveram de deixar pacientes para trás e enfrentaram uma escolha inimaginável: suas vidas ou a de seus pacientes. Não há justificativa razoável para atos tão cruéis.

Desde o início de sua campanha militar, o governo israelense impôs um “cerco total” sobre Gaza, impedindo a entrada de água, comida, combustível e suprimentos médicos para 2,3 milhões de civis encurralados no enclave. Além disso, restrições desumanas têm impedido que ajuda humanitária extremamente necessária possa chegar a quem mais necessita. Submeter toda uma população a punição coletiva é um crime de guerra de acordo com o Direito Internacional Humanitário (DIH).

Os ataques de Israel não estão sendo apenas infligidos contra o Hamas, estão sendo efetuados sobre todo o território de Gaza e sua população, a qualquer custo. Mesmo as guerras têm regras, mas Israel está claramente trocando-as por sua própria estratégia militar baseada na desproporcionalidade. Nos dias iniciais desta ofensiva inimaginável, um porta-voz das Forças de Defesa Israelenses anunciou que a “ênfase” dessa retaliação flagrantemente excessiva seria “nos danos e não na precisão”. Estamos testemunhando o princípio fundamental de Humanidade ser abertamente violado.

O Norte de Gaza está sendo varrido do mapa. O sistema de saúde colapsou. Mais de 15 mil pessoas foram mortas, metade delas crianças, de acordo com as autoridades de saúde de Gaza. Isso representa uma em cada 200 pessoas em Gaza. Dezenas de milhares estão feridos. Famílias estão buscando seus entes queridos mortos sob escombros. De acordo com as Nações Unidas, ao menos 1,8 milhão de pessoas foram deslocadas, esses civis receberam ordens de Israel para se deslocar de maneira forçada para o sul, mas bombardeios israelenses também estão ocorrendo nessa região. Nenhum lugar é seguro.


A pausa nas hostilidades por sete dias foi o primeiro sinal de humanidade depois de semanas de violência ininterrupta, porém ela não significou de maneira alguma uma solução e ao fim deste período, os bombardeios recomeçaram. Qualquer pausa para a população de Gaza é bem-vinda, especialmente se isso lhe der acesso a suprimentos médicos, comida e água. Apesar disso, considerando as necessidades imensuráveis, estes poucos dias de trégua não são o bastante para organizar a entrega de ajuda humanitária capaz de suprir as enormes necessidades.

Na América Latina, a MSF está aproveitando a reunião de presidentes do Mercosul, que acontece no Rio de Janeiro entre os dias 4 e 7 de dezembro, para enviar uma carta aos líderes dos países do bloco. O objetivo é pressionar seus presidentes a fazerem tudo o que estiver ao seu alcance para assegurar um cessar-fogo imediato e permanente na Faixa de Gaza.

A carta aberta por Gaza aos líderes do Mercosul clama para que a comunidade internacional exija que o governo israelense cesse imediatamente os ataques mortais contra civis palestinos e permita que ajuda humanitária crucial ingresse em Gaza.

A MSF também está promovendo uma petição para reforçar esse pedido. A petição pode ser acessada aqui: chng.it/GvRsvqTQ7D

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