Desinformação ainda é um dos principais desafios para o controle do uso de agroquímicos.
O Brasil, atualmente, é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Inúmeros estudos comprovam os malefícios para a saúde humana e ambiental por conta da exposição aos agrotóxicos.
Nos últimos anos, o uso desses produtos cresceu consideravelmente, e fazem parte das políticas anti-ambientais voltadas para o crescimento do agronegócio.
Pesquisas sugerem que na Amazônia a mudança epidemiológica vem sofrendo importantes influências das variações ambientais e que essa situação pode ter sido causada pela intensa exposição da população a contaminantes tóxicos, como os resíduos agroquímicos.
No Maranhão, por conta do uso indiscriminado dos agrotóxicos, diversos conflitos entre produtores de soja e comunidades locais se intensificaram na região. Em 2021, por exemplo, um avião pulverizou agrotóxicos sobre a comunidade do Araçá, em Buriti, no Maranhão (MA).
Apesar de o episódio ter chamado atenção das autoridades, Diogo Cabral, advogado da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, afirma que esse tipo de pulverização ainda acontece não só nesta comunidade, como em outras.
“Em relação ao episódio de pulverização aérea nas comunidades Araçá e Carranca tem sido comum no estado do Maranhão. Já identificamos pulverização aérea em outras comunidades como a comunidade Rocha do Meio no município Duque Bacelar, pulverização aérea em territórios indígenas, como na terra indígena Canabrava, que uma empresa tem feito pulverização aérea e à deriva tem atingido parte significativa destes territórios, no oeste do estado na região de Açailândia. Também tem sido comum denúncias de trabalhadores e trabalhadoras rurais, assentados, informando que empresas que trabalham com reflorestamento com floresta artificial, tem lançado agrotóxico, por meio aéreo e esses lançamentos tem provocado uma série de problemas”, disse Cabral.
O advogado explica ainda que essas populações são impactadas diretamente pelo uso desses contaminantes tóxicos no meio ambiente.
“Essa situação de contaminação, infelizmente não há dados muito singulares sobre a realidade do Maranhão, mas daquilo que nós já identificamos de impactos vão desde doenças respiratórias, doenças de pele, dores de cabeça, vômitos... Outras situações é que se revelam gravíssimas, e até mesmo adoecimento de crianças e idosos. Então isso tem sido observado em relação às comunidades que já foram impactadas por agrotóxicos”, disse Cabral.
De acordo com o advogado, por conta da contaminação no meio ambiente, denúncias já foram feitas, referente a morte de animais e inutilização de fontes de água.
“Em relação ao meio ambiente e aos impactos, se referem tanto à contaminação das águas, do solo. Já tivemos denúncias de mortalidade de peixes, denúncias relacionadas a mortes de animais, a inutilização de fontes de água. Então, isso tem sido corriqueiro em relação a situações onde há contaminação”, detalhou.
Ainda na região Amazônica, no município de Cláudia, no Mato Grosso (MT), onde o agronegócio é fortemente disseminado, muitas comunidades e assentamentos sofrem com a pressão da produção da monocultura de soja e milho, e consequentemente, por conta da utilização de produtos químicos.
Tais utilizações de agrotóxico, tem impacto negativo, tanto na saúde física, como na mental de assentados desta região, como explica Luciano**, produtor rural agroecológico no MT.
“Estes agrotóxicos impactam diretamente na saúde nossa aqui dos assentados. Tem situações aqui de pessoas que teve problema psicológico de tanta pressão que sofreu, por eles terem uma cultura de plantar de forma agroecológica e o fazendeiro vizinho envenenando a sua produção, e como é uma força muito grande a ser enfrentada, essas pessoas se sentem também sem poder de reação, e às vezes é obrigado a fugir da sua unidade camponesa para poder escapar do agrotóxico”, disse o assentado.
Diante dessa situação, Luciano, aponta que o estado não tem tomado nenhuma providência, haja vista, de que o Mato Grosso é totalmente dominado pelo agronegócio.
“Como o governo do estado não tem tido nenhuma ação de melhoria, de amenizar os problemas, porque é um estado dominado pelo agronegócio. Se precisar vai dificultar a vida da agricultura familiar e não de solucionar, e não de aliviar, de punir quem pratica esses crimes, de envenenamento aí da nossa agricultura agroecológica”, relata o agricultor.
Para avaliar o impacto do uso de agrotóxico e a necessidade de sensibilizar a população sobre o que os agrotóxicos causam na saúde de quem produz e quem consome, foi criado em 2017 o Fórum de Combate ao uso Agrotóxicos do Baixo Amazonas, no Pará.
O Fórum foi criado com representação governamental dos municípios de Santarém, Mojuí dos Campos e Belterra, no Oeste do Pará e da União, organizações não governamentais e entidades da sociedade civil organizada. Também participam como parceiras, a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Organização Terra de Direitos, Comissão Pastoral da Terra (CPT) e demais entidades e órgãos que defendem o direito à vida e à posse da terra.
Na região, principalmente os trabalhadores rurais sofrem com a pressão do agronegócio e o uso indiscriminado de agrotóxicos, no entanto, segundo o biólogo, Ruy Bessa, professor da Ufopa, isso acontece por conta da falta de informação.
“E falta de informação permite com que esses produtos, por exemplo, sejam armazenados embaixo da cama, dentro de um armário de alimentos, para que as embalagens sejam usadas como receptáculos para saciar a sede em animais e a própria sede de humanos. Então é muito complicada essa situação em função da falta de informação”, disse o biólogo.
Ainda de acordo com Bessa, as informações que constam nas embalagens dos agroquímicos precisam ser compreendidas de maneira correta, em especial, por pessoas que manuseiam, por conta dos riscos oferecidos à saúde humana, animal e ambiental.
“A educação, a informação, a compreensão são importantes numa política de combate ao uso intenso de agrotóxicos. As informações contidas nas embalagens, nos rótulos e quase todos os rótulos, elas apresentam uma caveira, são pouco compreendidas especialmente pela grande massa de produtores rurais não só na Amazônia, mas em boa parte do nosso país. E isso dificulta muito a compreensão, ao risco que essas substâncias oferecem tanto à saúde de quem manipula quanto à saúde do outro e à saúde ambiental”, afirmou o professor.
Diante disso, o uso excessivo de agrotóxicos se apresenta como um fator amedrontador para a saúde humana e animal e para os possíveis danos que podem gerar no meio ambiente, sendo considerado atualmente como um dos maiores problemas ambientais, causando contaminação da água e do solo.
A massificação do uso de agroquímicos, segundo estudos, também está relacionado com vários tipos de câncer, uma vez que pode causar alterações celulares a partir de uma exposição mais longa.
Os impactos socioambientais da utilização de agrotóxicos são extremamente negativos. De maneira oposta e como uma das principais alternativas para minimizar esses impactos, surge a agroecologia.
Compreendida como ciência e prática que considera não somente o conhecimento científico, mas principalmente, as técnicas e saberes dos povos tradicionais, através de princípios ecológicos e tradições culturais, que promovem a preservação da biodiversidade, justiça social e ambiental, segurança e soberania alimentar, a agroecologia representa a posição ideal ao desenvolvimento de uma agricultura ambientalmente sustentável e livre de agrotóxicos.
Fonte: Liege Costa