#SEMANADAPĂTRIA
A expressĂŁo da mulher brasileira no 7 de setembro
Por: PatrĂcia Rodrigues Augusto Carra
O empoderamento feminino corre no sangue da mulher brasileira e nĂŁo Ă© Ă toa. Apesar da falta de destaque Ă s açÔes e aos pensamentos femininos nas narrativas histĂłricas, mulheres sĂŁo agentes ativas nos processos histĂłricos. Por isso, nĂŁo Ă© possĂvel passar a semana da IndependĂȘncia sem lembrar das que lutaram na guerra de IndependĂȘncia, como Maria QuitĂ©ria, voluntĂĄria na batalha contra as forças de Portugal.
Ela nĂŁo foi a Ășnica. Registros mencionam a existĂȘncia de vĂĄrias outras mulheres atuantes na IndependĂȘncia do Brasil. Um processo marcado, tambĂ©m, pela violĂȘncia. Se no dia sete de setembro aconteceu a proclamação da IndependĂȘncia com um grito de Dom Pedro, a emancipação polĂtica do Brasil foi um acontecimento mais longo e complexo. Na Bahia, muitas mulheres guerrearam de arma em punho, lideradas pela prĂłpria QuitĂ©ria, em batalhas como a do rio Paraguaçu; muitas outras lutaram sob a liderança de Maria Felipa.
A narrativa histĂłrica oficial – de forma muito tĂȘnue – sĂł registrou duas mulheres como heroĂnas: Maria QuitĂ©ria, ouso dizer, quase como musa numa versĂŁo amazĂŽnica, e Soror AngĂ©lica, na qualidade de mĂĄrtir.
Mais de um sĂ©culo apĂłs o fim das lutas pela IndependĂȘncia do Brasil, Maria QuitĂ©ria foi reconhecida como HeroĂna das Guerras pela IndependĂȘncia e, em 1953, por ordem do governo brasileiro, seu retrato foi inaugurado em estabelecimentos do ExĂ©rcito. Mas somente a partir de 2018 foram admitidas mulheres na Academia Militar das Agulhas Negras para serem formadas combatentes do ExĂ©rcito Brasileiro.
Quitérias, Soror Angélicas, Marias Felipas... muitas mulheres romperam com os padrÔes vigentes de suas épocas. A historiografia nacional, em geral, concede a Maria Quitéria patriotismo como o valor justificante para sua transgressão; contudo, também ressalta a redenção ao papel dela esperado enquanto mulher de sua época.
Ela nĂŁo ocupa grandes espaços nos manuais de HistĂłria e, em geral, Ă© resumida Ă mulher que fugiu de casa para lutar na Guerra de IndependĂȘncia. Maria QuitĂ©ria, porĂ©m, Ă© muito mais que isso: Ă© sinĂŽnimo de empoderamento, com valores que incentivam a busca de autonomia, a coragem para trilhar caminhos diferenciados, o autoconhecer-se. NĂŁo Ă© a mulher que se disfarçou de homem e lutou em uma guerra, mas a que ousou escolher e se ‘empoderar’ numa Ă©poca em que o termo nem existia.
Ao resgatarmos trajetĂłrias de mulheres em processos histĂłricos, como o da emancipação polĂtica brasileira, Ă© possĂvel fazermos novos questionamentos e leituras de lugares, de espaços e da sociedade desejada. Ă possĂvel reconhecermos valores que contribuam com o buscar de uma sociedade cujo marco seja a equidade.
PatrĂcia Rodrigues Augusto Carra Ă© doutora em Educação, psicopedagoga, historiadora e pesquisadora. Ă autora do livro infantil “Maria Flor” e fundadora da revista digital Histori-se.