John Kerry e Marina Silva. Foto: Ministério do Meio Ambiente |
Enviado Especial dos EUA para o Clima destacou que, sem proteção à Amazônia, o mundo não atingirá a meta de limitar o aquecimento global
Um compromisso de parceria em ciência, pesquisa, combate às mudanças climáticas e de investimento dos Estados Unidos no Fundo Amazônia. Foi esse o tom da entrevista coletiva concedida pelo enviado especial dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, e, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, em Brasília, na tarde desta terça, 28/2.
Kerry reiterou a intenção de trabalhar com o Congresso dos Estados Unidos para apoiar o Fundo Amazônia como um componente da parceria bilateral e obter apoio da comunidade internacional para a iniciativa brasileira. “Nós temos o compromisso de trabalhar com o Fundo Amazônia, de trabalhar com outras entidades, de trabalhar bilateralmente nas áreas de ciência, pesquisa, desenvolvimento, novos produtos e novas possibilidades”, declarou Kerry.
A vinda de John Kerry ao Brasil é desdobramento do encontro realizado em 10 de fevereiro, em Washington, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. A visita representa mais um passo no fortalecimento da agenda dos dois países nas questões ambientais, tendo como um dos focos principais a proteção à Floresta Amazônica.
A ministra do Meio Ambiente ressaltou que o anúncio do apoio dos Estados Unidos ao Fundo Amazônia, além da importância financeira, tem profundo significado político. “É o reconhecimento de um instrumento de aporte de recursos feito genuinamente pelo Brasil, de pagamento por emissão de CO² já realizado, que é inédito no mundo, e que os Estados Unidos estão reconhecendo como sendo capaz de efetividade, transparência e possibilidade de implementação rápida”, ressaltou Marina Silva.
Kerry destacou que o presidente Lula e o presidente Joe Biden compartilham a mesma ideia sobre o papel crucial da Floresta Amazônica no combate à mudança do clima no planeta. “Eles têm um alinhamento forte de pensamento. Vamos trabalhar juntos, não de forma bilateral apenas, mas globalmente, trazendo as pessoas à mesa”, disse.
“A realidade é que essa floresta é essencial para a estabilidade do mundo e para que possamos atingir os objetivos que foram estabelecidos há anos”, frisou John Kerry. “A Floresta Amazônica é lendária. Todos no mundo sabem e conhecem sobre a Amazônia. A não ser que a Floresta Amazônica seja protegida daqueles que a desmatam, nós não conseguiremos manter a meta de aquecimento global”, prosseguiu Kerry.
O Acordo de Paris inclui um plano de ação para limitar o aquecimento global. Entre os principais objetivos estão os esforços para manter o aumento da temperatura média mundial em um limite de 1,5 °C. Estudos apontam que um aquecimento acima deste patamar resultará em impactos climáticos cada vez mais prejudiciais para o planeta.
Foto: Ministério do Meio Ambiente |
Principais pontos
Durante a coletiva, o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, João Paulo Capobianco, leu um documento com detalhes dos principais pontos discutidos.
Marina Silva e John Kerry reiteraram o forte compromisso do Brasil e dos Estados Unidos em colaborar para combater a crise climática, promover o desenvolvimento sustentável e fomentar uma transição energética justa e inclusiva. Ambos se comprometeram a trabalhar com parceiros interessados do setor público, privado, filantrópico e multilateral para mobilizar o apoio significativo para a discussão dos temas do meio ambiente e mudança do clima que serão debatidos durante encontro do G20, em abril.
Os dois também acordaram em fortalecer e aprimorar o Grupo de Trabalho de Alto Nível entre Brasil e Estados Unidos Sobre Mudança do Clima, criado em 2015 e que estava paralisado. Essa ação visa a retomada de suas atividades com a maior brevidade possível e em articulação com os demais ministérios envolvidos.
Terão prioridade áreas como a prevenção e combate ao desmatamento; mudança do uso da terra e degradação ambiental; bioeconomia; fortalecimento das ações de adaptação; troca de informações, dados e conhecimento acerca dos riscos, vulnerabilidades e oportunidades associadas à mudança do clima.
Estão incluídas ainda a questão dos oceanos e zona costeira e outras agendas que ainda serão objeto de articulação com os demais ministérios, como a promoção das práticas de agricultura de baixo carbono e dos mercados de carbono de alta integridade; e a transição energética em áreas como energia elétrica, transporte e indústria verde.
Sobre a cooperação financeira bilateral, os lados brasileiro e norte-americano reiteraram a intenção de mobilizar o financiamento em larga escala para apoiar uma ação climática ambiciosa no Brasil. Foram discutidos diversos mecanismos de cooperação financeira para o enfrentamento à mudança do clima, incluindo medidas baseadas em mercados de carbono e pagamentos baseados em resultados.
Desde a segunda-feira (27.02), quando iniciou a agenda de encontros oficiais no Brasil, John Kerry reuniu-se, além da ministra Marina Silva, com diversos representantes do governo brasileiro, entre eles a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara; a ministra substituta das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha; o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, e o vice-presidente, Geraldo Alckmin.