Não devemos nunca apagar a história, por mais perversa que ela seja, todos precisam saber as atrocidades que o homem é capaz de fazer a outro homem.
A Fazenda Cruzeiro do Sul e a Estação Ferroviária Engenheiro Hemílio, localizadas entre os municípios de Paranapanema (SP) e Campina do Monte Alegre (SP), foram tombadas como Patrimônio Histórico e Cultural.
Os locais ficaram conhecidos nacionalmente após tijolos e documentos marcados com suásticas, símbolo do nazismo, serem encontrados por um fazendeiro. Pesquisas também apontaram que a propriedade promovia a exploração de trabalho infantil, durante as décadas de 30 e 40.
A decisão é de fevereiro, mas foi divulgada na sexta-feira (18) pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), que considerou a fazenda e a estação como a "materialização de pensamentos segregacionistas e preconceituosos vividos pela sociedade brasileira".
O tombamento da fazenda e da ferroviária foi determinado quase 30 anos após o fazendeiro José Ricardo Maciel encontrar tijolos marcados com suásticas nos locais, enquanto reformava um chiqueiro.
Além das grafias, o fazendeiro também encontrou fotos de animais marcados a ferro com o símbolo, guardadas na propriedade, que evidenciam a presença de partidários do ditador Adolf Hitler na região.
Depois da primeira descoberta, José Ricardo decidiu buscar outras marcas na propriedade e ficou novamente impressionado ao encontrar o mesmo símbolo em várias construções, até mesmo em uma capela.
Em 1998, o achado histórico em Campina do Monte Alegre chegou ao conhecimento do historiador Sidney Aguilar Filho.
Após anos de pesquisa, Sidney constatou que a Fazenda Cruzeiro do Sul pertencia a uma família muito poderosa no Rio de Janeiro, que mantinha negócios em São Paulo e integrava a Ação Integralista Brasileira (AIB), organização de extrema direita simpatizante do nazismo.
O historiador também descobriu que os antigos donos traziam crianças negras de orfanatos cariocas para viver e trabalhar na região. Esses meninos não tinham nomes e eram chamados por números.
Ao todo, 50 meninos teriam vivido em situação de escravidão em Campina do Monte Alegre. Entre eles, Aloysio da Silva, que teve sua história contada no filme "Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil.