Realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro, a ECO-92 marcou a forma como a humanidade encara sua relação com o planeta. Mas afinal, quais foram os avanços até os dias atuais?
Nas Ășltimas duas semanas (31/10 a 12/11), representantes de cerca de 200 paĂses estiveram reunidos em Glasgow, na EscĂłcia, para a ConferĂȘncia das NaçÔes Unidas sobre as Mudanças ClimĂĄticas (COP-26), com o objetivo de discutir e firmar acordos para fortalecer medidas para ao combate ao aquecimento global, com base no acordo de Paris, realizado em 2015.
HĂĄ anos os especialistas do clima vĂȘm alertando a comunidade mundial sobre os efeitos das mudanças climĂĄticas. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças ClimĂĄticas (IPCC), ĂłrgĂŁo das NaçÔes Unidas que avalia esse fenĂŽmeno, estima que, atĂ© o fim do sĂ©culo 21, caso nĂŁo haja nenhuma mudança nos padrĂ”es de consumo e produção, haverĂĄ um aumento de 2 a 3 graus celsius na temperatura mĂ©dia do Planeta.
Assim, as decisĂ”es polĂticas apresentadas pelos lĂderes durante a COP-26 sĂŁo determinantes ao nosso futuro. Mas afinal, o que avançou em termos de contribuição para as mudanças climĂĄticas desde a conferĂȘncia no ano de 1992 realizada no Rio de Janeiro?
Naquele momento, a comunidade polĂtica internacional admitiu claramente que era preciso conciliar o desenvolvimento socioeconĂŽmico com a utilização dos recursos da natureza. O despertar com a preocupação do desenvolvimento sustentĂĄvel concluiu que terĂamos de agregar os componentes econĂŽmicos, ambientais e sociais para um mundo melhor, nos comprometendo com a redução dos padrĂ”es de consumo, especialmente de combustĂveis fĂłsseis, como o petrĂłleo e carvĂŁo mineral.
Segundo a professora Sandra Lopes, coordenadora dos cursos de pĂłs-graduação em Meio Ambiente do Centro UniversitĂĄrio Internacional Uninter, houve alguns avanços neste quesito. PorĂ©m, com a crise econĂŽmica mundial estabelecida nos Ășltimos dois anos, vĂĄrios paĂses retomaram o uso da energia derivada do carvĂŁo mineral, incluindo o Brasil. Isso retrocedeu o pacto firmado para um desenvolvimento sustentĂĄvel.
“Diversos paĂses firmaram o compromisso mundial sobre medidas para reduzir os efeitos das mudanças climĂĄticas e o aquecimento global, induzidos pelos gases do efeito estufa, com um prazo para atĂ© 2050. Surgiram aĂ vĂĄrias medidas, entre elas, mudança de tecnologia para produção de produtos que utilizavam CFC (cloro, flĂșor e carbono), a criação de um selo certificando a exclusĂŁo dos gases na produção e a redução de consumo de energia. Neste caso, o Brasil se comprometeu e continua atuante”, explica Sandra.
Na COP-26 o objetivo continua sendo o mesmo, a redução dos gases de efeito estufa, agora com a preocupação de prevenir mudanças climåticas causadas pelas atividades humanas.
Os principais acordos anunciados pelos paĂses na COP-26
- Redução da emissão dos gases de efeito estufa em 7,5% até 2050, neutralidade de emissão de carbono até essa data.
- Conter o aumento da temperatura global, para evitar os efeitos como: aumento do volume do mar e oceanos e redução da disponibilidade de ĂĄgua no planeta (crise hĂdrica).
- Cobertura verde nas cidades ou ĂĄreas urbanas.
- Redução do desmatamento.
- Comércio sustentåvel.
- Redução de emissĂŁo do gĂĄs metano. Neste caso, o Brasil estĂĄ comprometido, haja visto que, desde junho de 2021 o Marco do Saneamento BĂĄsico e destinação dos resĂduos sĂłlidos em locais adequados, a exemplo dos aterros sanitĂĄrios e usinas de reaproveitamento dos resĂduos sĂłlidos urbanos. Os trĂȘs paĂses que mais geram esse gĂĄs sĂŁo China, RĂșssia e Ăndia, ficando fora da lista. O gĂĄs metano tem um potencial de aquecimento cerca de 80 vezes maior que o gĂĄs carbono.
SĂŁo inĂșmeros os acordos firmados, porĂ©m, o cumprimento acaba sendo comprometido por diversas razĂ”es, sejam polĂticas, econĂŽmicas e sociais.
Como o Brasil se saiu durante a conferĂȘncia?
O governo brasileiro apresentou uma meta ambiciosa de redução de 50% das emissÔes dos gases associados ao efeito estufa até 2030, e a neutralização das emissÔes de carbono até 2050. Além disso, prometeu a recuperação de åreas desmatadas e degradadas, zerando o desmatamento ilegal até 2028.
Segundo o Ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, o Brasil poderĂĄ se beneficiar por ser um paĂs com baixa emissĂŁo de gases de efeito estufa e que deve ainda, colocar no mercado, crĂ©dito de carbono atravĂ©s das atividades agrĂcolas, como papel e celulose, etanol e, futuramente, da prĂłpria produção de grĂŁos, das energias renovĂĄveis.
Durante a conferĂȘncia, o Brasil apresentou o Programa Nacional de Crescimento Verde, lançado uma semana antes do inĂcio da COP-26. O programa começa com a criação de um comitĂȘ de mudança do clima e crescimento verde, onde dez ministĂ©rios vĂŁo atuar de maneira integrada, olhando para a redução de emissĂ”es de gases de efeito estufa, para a conservação florestal e para o uso racional dos recursos naturais.
PorĂ©m, na prĂĄtica, a Ășnica medida efetiva do programa foi a renomeação do ComitĂȘ Interministerial sobre Mudança do Clima, que agora, passa a se chamar ComitĂȘ Interministerial sobre Mudança do Clima e Crescimento Verde (CIMV). TerĂĄ como principal atribuição, facilitar o planejamento, a execução e o monitoramento de resultados.
“Ainda Ă© difĂcil saber se o programa irĂĄ realmente funcionar. Teremos que aguardar a retomada das açÔes ambientes no Brasil apĂłs a COP-26, e se as propostas serĂŁo colocadas em prĂĄtica ou ficarĂŁo somente no papel. A sociedade precisa acompanhar e cobrar as estratĂ©gias direcionadas ao desenvolvimento econĂŽmico sustentĂĄvel que Ă© objetivo do programa, sem esquecer das iniciativas governamentais e privadas”, explica a especialista MĂĄrcia Kravetz Andrade, professora de pĂłs-graduação em Meio Ambiente na Uninter.
O protagonismo jovem na COP-26
No dia dedicado aos jovens, ocorrido em 05 de novembro, mais de 25 mil pessoas estiveram presentes nas manifestaçÔes nas ruas de Glasgow, carregando cartazes e pedindo um futuro melhor para as próximas geraçÔes.
A frase “queremos justiça climĂĄtica agora” foi amplamente utilizada para evidenciar a decepção de grupos ativistas com os resultados das Ășltimas conferĂȘncias.
Ao que tudo demonstrou, os jovens estĂŁo organizados e empenhados nas cobranças Ă s autoridades. Com isso, foi entregue Ă presidĂȘncia da COP-26 e a outros lĂderes, uma declaração assinada por mais de 40 mil jovens, exigindo mudanças e negociaçÔes climĂĄticas mais inclusivas.
Solicitaram ainda que a secretĂĄria executiva da Convenção, PatrĂcia Espinosa, apoiasse esses esforços e que adicionasse um parĂĄgrafo mencionando a importĂąncia da juventude na declaração final da COP-26.
"Para alcançar as metas e propostas da COP-26 vamos depender desta juventude ativa, que se importa com as questĂ”es ambientais do planeta. O Reino Unido e a ItĂĄlia, em parceria com a Unesco, Youth4Climate e Mock COP, coordenaram uma nova ação global para treinar as geraçÔes futuras com o conhecimento e as habilidades por um mundo neutro em carbono. Cabe agora, o Brasil pensar em açÔes para habilitar os jovens e envolvĂȘ-los nesse processo”, relata MĂĄrcia.