O Ministério da Justiça e Segurança Pública oficializou na noite desta sexta-feira, 8, a troca no comando da superintendência regional da Polícia Federal no Distrito Federal. Em edição extra do Diário Oficial da União, foi confirmada a dispensa da função do delegado Hugo de Barros Correia e designado para o cargo o delegado Victor Cesar Carvalho dos Santos.
O diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, decidiu pela substituição. A superintendência do DF é a responsável por dois dos principais inquéritos que hoje preocupam o presidente Jair Bolsonaro: o inquérito das fake news, que mira em aliados do presidente, e o que tem como alvo suposta prática de tráfico de influência envolvendo o filho “04”, Renan. Como superintendente, Correia não tocava tais investigações, mas coordenava o núcleo que apura os casos.
O delegado foi informado da “demissão” ontem à noite, sem maiores explicações. A decisão foi comunicada pelo chefe de gabinete do diretor-geral da PF, Marcelo de Oliveira Andrade, sem a presença de Maiurino. Segundo interlocutores, diretor-geral cortou o diálogo com Hugo desde a operação que teve como alvo o ex-ministro Ricardo Salles.
Correia mal completou cinco meses no cargo. Para o lugar de Correia, Maiurino deve indicar um delegado do Rio de Janeiro, reduto da família Bolsonaro.
Segundo policiais, o novo superintendente pode mais atrapalhar do que ajudar, uma vez que os delegados precisam ter respaldo do chefe para conduzir os inquéritos – especialmente nas investigações mais sensíveis, que atingem autoridades -, além de infraestrutura pra tocar as operações.
Os incômodos que levaram ao afastamento do superintendente do DF estão ligados à comunicação sobre ações da Polícia Federal. Correia não passava as informações com frequência para o diretor-geral, apenas em momentos certos.
Essa era uma queixa antiga do presidente Jair Bolsonaro: “não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações”.
No inquérito das fake news, que tem como relator o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, algumas operações chegaram ao conhecimento de Maiurino pouco antes da deflagração. Foi exatamente o que aconteceu nesta quinta-feira, 7.
Maiurino só soube de última hora que a Polícia Federal faria busca e apreensão em endereço ligado a uma ex-estagiária do ministro Ricardo Lewandowski, do STF, que seria uma informante do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos. Foi a gota d’água, segundo fontes da PF ouvidas pela reportagem.
A troca ocorre no momento em que a investigação que tem Jair Renan está bem avançada. A apuração envolvendo o filho ’04’ de Bolsonaro foi aberta em março e mira supostos crimes de crimes de tráfico de influência e lavagem de dinheiro praticados por um grupo empresarial do setor de mineração e Jair Renan. A proximidade entre o filho do presidente e outras companhias em outras ocasiões despertaram a atenção não só da PF e do Ministério Público Federal, mas também da CPI da Covid. Documentos obtidos pelo colegiado mostram que Jair Renan recorreu a ajuda de um lobista para abrir sua empresa privada em Brasília.
Uma outra investigação tocada pela superintendência é relacionada ao inquérito administrativo aberto no âmbito do TSE para apurar ataques ao sistema eleitoral e crimes abuso de poder econômico e político, uso indevido dos meios de comunicação social, corrupção, fraude, condutas vedadas a agentes públicos. O caso foi aberto depois da live em que o presidente Jair Bolsonaro lançou uma série de informações falsas sobre as urnas eletrônicas.